Seguindo em nosso propósito de contrapor provas documentais às acusações difamatórias do "Silêncio de Pio XII", apresentamos, depois da alocução em que o Papa condena explicitamente "o expectro satânico levantado pelo nazismo", esta nossa tradução para o Editorial de Natal de 1941 do New York Times. Como se poderá ver, a oposição de Pio XII ao regime Nacional Socialista era pública e inequívoca no tempo de seu governo.
A Mensagem do Papa
A voz de Pio XII é uma voz solitária no silêncio e na escuridão envolvendo a Europa neste Natal. O Papa reitera o que antes já havia dito. De modo geral, ele repete, ainda que mais claramente, o plano de cinco diretrizes que ele primeiro enunciara em sua mensagem de Natal no início da guerra, em 1939. Seu programa concorda fundamentalmente com a declaração de oito pontos de Roosevelt e Churchill, e clama por respeito aos tratados e pelo fim da possibilidade de agressão, por tratamento equânime para os diversos grupos raciais e pela liberdade contra as perseguições religiosas. Seu programa vai mais longe que a Carta Atlântica ao advogar pelo fim dos monopólios nacionais de riqueza econômica, e caminha junto com ela ao reivindicar o completo desarmamento da Alemanha até que alguma limitação futura de armamento seja estabelecida para todas nações.
O Pontífice enfatizou princípios de moral internacional com os quais a maior parte dos homens de boa vontade concorda. Salientou idéias que se esperaria expressas por um líder espiritual em tempo de guerra. No entanto, suas palavras soam estranhas e corajosas na Europa de hoje, e nós podemos compreender a completa submersão e escravidão das grandes nações, fontes absolutas de nossa civilização, ao verificar que ele é o único governante que restou no Continente da Europa que se atreve a levantar a própria voz. As últimas pequenas ilhas de neutralidade foram a tal ponto encurraladas e obscurecidas pela guerra e pelo medo que ninguém senão o Papa pode ainda falar em voz alta em nome do Príncipe da Paz. Com efeito, isto é uma mostra da “devastação moral” que ele diz acompanhar a ruína física e o inconcebível sofrimento humano.
Clamando por uma “nova ordem real” baseada na “liberdade, justiça e amor”, que será atingida somente por um “retorno a princípios sociais e internacionais capazes de criar uma barreira contra o abuso de liberdade e o abuso de poder”, o Papa se posiciona inteiramente contra o Hitlerismo. Reconhecendo que não há caminho aberto para o acordo entre beligerantes “cujos recíprocos objetivos e programas de guerra parecem ser irreconciliáveis”, ele não deixa dúvida que os objetivos Nazistas são também irreconciliáveis com sua própria concepção de paz cristã. “A nova ordem que deve nascer deste conflito”, ele afirma, “tem de basear-se em princípios”. E isto implica apenas um fim para a guerra.
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Não poderíamos deixar de notar que, no Natal seguinte, o Times publicou novo editorial sobre Pio XII em que reiterou tudo o que antes dissera. Deste segundo editoral, datado de 1942, publicamos o parágrafo de abertura.
O Veredicto do Papa
Nenhum sermão de Natal atinge maior grupo de pessoas que a mensagem que o Papa Pio XII dirigiu neste período a um mundo devastado pela guerra. Neste Natal mais que nunca ele é uma voz solitária clamando desde o silêncio de um continente. O Púlpito donde ele fala é mais que nunca similar a Rocha na qual foi a Igreja fundada, uma pequena ilha açoitada e rodeada por um mar de guerra. Nestas circunstâncias, em qualquer circunstância, com efeito, ninguém esperaria que o Papa falasse como um líder político, ou como um líder de guerra, ou em qualquer outro papel senão o de um pregador ordenador para pairar por cima do combate, atado imparcialmente, como ele diz, a todos os homens, desejando colaborar em qualquer nova ordem que trará uma paz justa.
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