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O texto que se vai ler é a íntegra da mensagem de 2 Junho de 1945 do Papa Pio XII aos Cardeais, sobre a condição da Igreja após a rendição dos Alemães. Repetindo as inequívocas condenações ao Nazismo proferidas por seu egrégio predecessor, esta alocução elucida o real posicionamento da Igreja com relação a Alemanha de Hitler, e constitui prova documental de que jamais existiu tal coisa como "o silêncio de Pio XII":
MENSAGEM SOBRE O NAZISMO E A SITUAÇÃO DA IGREJA NA ALEMANHA
Quando nós muito agradecidamente recebemos, veneráveis irmãos, as gentis palavras que o venerável e amado reitor do Colégio Sagrado ofereceu-nos em vosso nome, nossos pensamentos nos trouxeram novamente a aquele dia, seis anos atrás, quando oferecestes vossas congratulações no dia da nossa festa, após, ainda que imerecidamente, nós termos sidos erguidos à Sé de Pedro.O mundo então estava ainda em paz: Mas que paz, e quão precária!
Com coração cheio de angústia, perplexos, rezando, nos inclinamos ante aquela paz como quem assiste a um moribundo, e obstinadamente luta para salvá-lo da morte, mesmo quando toda esperança se foi.
A mensagem que então lhes dirigimos refletia nossa triste apreensão de que o conflito, que estivera tornando-se cada vez mais ameaçador, iria estourar — um conflito cuja extensão e duração ninguém poderia prever. A subseqüente marcha dos eventos não apenas justificou por demais claramente nossos mais tristes pressentimentos, mas superou-os largamente.
Hoje, após seis anos, a luta fratricida terminou em uma parte desse mundo lacerado pela guerra. É uma paz — se assim a podemos chamar — ainda que frágil, que não pode perdurar ou ser consolidada exceto a expensas dos mais assíduos cuidados; uma paz cuja manutenção impõe a toda a igreja, a ambos pastor e fiel, tarefas graves e muito delicadas; prudência paciente, fidelidade valorosa, espírito de sacrifício!
Todos são convocados a se devotarem a isto, cada um em seu próprio ofício e em seu próprio lugar. Ninguém poderia trazer a esta tarefa demasiada ansiedade ou zelo. Quanto a nós e nosso ministério apostólico, bem sabemos, veneráveis irmãos, que poderemos seguramente contar com vossa sábia colaboração, vossas incessantes orações, vossa fiel devoção.
A Igreja e Nacional Socialismo.
Na Europa a guerra é finda; mas que feridas não nos infligiu! Nosso Mestre Divino disse: “Todo aquele que tomar da espada perecerá da espada” [Mt 26,52].
Ora, o que se vê? Vê-se o resultado do Estado reduzido à um prática que não observa os mais sagrados ideais da humanidade, que derruba os princípios invioláveis da fé Cristã. O mundo inteiro hoje contempla com estupor as ruínas que isto deixou atrás. Estas ruínas nós as vimos quando ainda estavam no futuro distante, e poucos, acreditamos, seguiram com maior ansiedade o processo conducente ao inevitável choque.
Por mais de doze anos — doze dos melhores anos de nossa maturidade — vivemos entre o povo alemão, cumprindo os deveres de ofício a nós confiados. Durante esse tempo, na atmosfera de liberdade que as condições políticas e sociais do tempo permitiam, trabalhamos pela consolidação do status da Igreja Católica na Alemanha.
Tivemos, então, a ocasião de conhecer as grandes qualidade do povo e estivemos pessoalmente em contato próximo com seus homens mais representativos. Por esta razão, acalentamos a esperança de que possa erguer-se à nova dignidade e à nova vida quando finalmente tiver enterrado o espectro satânico levantado pelo Nacional Socialismo e os culpados (como já tivemos noutros tempos a ocasião de expor) tiverem expiado os crimes que cometeram.
Enquanto ainda existia algum esfalecente brilho de esperança de que aquele movimento poderia tomar um outro e menos desastroso destino, já pela desilusão de seus membros mais moderados, já pela efetiva oposição daquela parte do povo alemão que a ele se opunha, a Igreja fez todo o possível para estabelecer uma formidável barreira à propagação de idéias a um tempo subversivas e violentas.
Na primavera de 1933 o governo alemão pediu à Santa Sé concluir um concordata com o Reich: a proposta tinha a aprovação do Episcopado e de pelo menos a maioria dos católicos alemães.
Com efeito, eles julgavam que nem as concordatas até então negociadas com alguns estados alemães individuais, nem a constituição de Weimar, davam garantias adequadas ou a certeza de respeito a suas convicções, a sua fé, direitos ou liberdade de ação.
Em tais condições as garantias não poderiam ser asseguradas exceto mediante um acordo tendo a forma solene de uma concordata com o Governo Central do Reich.
Deve se acrescentar que, uma vez que foi o Governo quem fez a proposta, a responsabilidade por todas conseqüências indesejáveis recairiam sobre a Santa Sé caso esta tivesse recusado a concordata proposta.
Conveniência da Concordata
Não é que a Igreja, por sua parte, tivesse quaisquer ilusões, construídas em excessivo otimismo ou que, em concluir a concordata, tivesse a intenção de dar qualquer tipo de aprovação aos ensinamentos ou tendências do Nacional Socialismo; isto foi expressamente declarado e explicado na ocasião (Cf. L’Osservatore Romano, No. 174, 2 de Julho de 1933). Deve, entretanto, ser reconhecido que a concordata nos anos que seguiram trouxe algumas vantagens ou, ao menos, preveniu maiores males.
Com efeito, apesar de todas as violações às quais foi submetida, deu aos Católicos uma base jurídica para sua defesa, uma fortaleza atrás da qual poderiam abrigar-se em sua oposição — tanto quanto isto era possível — da sempre crescente campanha de perseguição religiosa.
A luta contra a Igreja tornou-se, de fato, ainda mais acirrada; eram as dissoluções de organizações católicas; a gradual supressão das florescentes escolas Católicas, tanto publicas como privadas; as separações forçadas da juventude com a família e a Igreja; a pressão exercida contra a consciência de cidadãos e especialmente de funcionários públicos; a sistemática difamação, por meios de uma propaganda habilidosa e cuidadosamente organizada, da Igreja, do clero, dos fiéis e das instituições, ensinamentos e história da Igreja; o fechamento, dissolução e confisco de casas religiosas e outras instituições eclesiásticas; a supressão completa da imprensa Católica e editoras.
O Nazismo Denunciado.
Para resistir tais ataques, milhões de corajosos Católicos, homens e mulheres, cerraram fila com seus Bispos, cujos corajosos e severos pronunciamentos nunca falharam a ressoar mesmo nestes últimos anos de guerra. Estes Católicos reuniram-se em torno de seus sacerdotes para ajudá-los a adaptar seus ministérios às sempre cambiantes necessidades e condições. E até o fim, eles lançaram contra as forças da impiedade e orgulho, as forças da fé, da oração e do comportamento e educação abertamente católicos.
Nestes anos críticos, reunindo a vigilância de um pastor com a longa paciência sofredora de um pai, nosso grande predecessor, Pio XI, cumpriu sua missão como Supremo Pontífice com intrépida coragem. Mas quando, após ele ter tentado todos os meios de persuasão em vão, ele viu a si mesmo defrontado com violações deliberadas do pacto solene, com uma perseguição religiosa mascarada ou aberta mas sempre rigorosamente organizada, ele proclamou ao mundo, em 1937, no Domingo da Paixão, em sua encíclica Mit brennender Sorge, o que Nacional Socialismo realmente era: a arrogante apostasia de Jesus Cristo, a recusa de Sua doutrina e de Sua obra de redenção, o culto da violência, a idolatria da raça e sangue, a deposição da liberdade e dignidade humana.
O Chamado Papal
Como um chamado de clarim que toca o alarme, o documento Papal com seus vigorosos termos — muito vigorosos e meditados — alarmaram as mentes e corações dos homens. Muitos — mesmo além das fronteiras da Alemanha — que até então tinham cerrado seus olhos à incompatibilidade do posicionamento do Nacional Socialismo com os ensinamentos de Cristo, tiveram de reconhecer e confessar seus erros. Muitos — mas não todos! Alguns, mesmo entre os próprios fiéis, estavam demasiado cegos por seus preconceitos ou fascinados pelas vantagens políticas.
A evidência dos fatos apresentados por nosso predecessor não os convenceu, muito menos os induziu a mudar seus hábitos. Será por mera coincidência que algumas das regiões que posteriormente mais sofreram com o sistema Nacional Socialista, eram precisamente aquelas onde a encíclica Mit brennender Sorge foi menos ou em nada considerada?
Teria então sido possível, por uma oportuna e calculada ação política, bloquear de uma vez por todas toda a explosão de brutal violência e colocar o povo alemão em postos para livrar-se dos tentáculos que o estrangulavam? Teria sido possível, então, ter salvado a Europa e o mundo dessa imensa inundação de sangue? Ninguém teria atrevido a dar um julgamento desqualificado.
Mas, em todo caso, ninguém poderia acusar a Igreja de não ter denunciado e exposto em tempo a verdadeira natureza do movimento Nacional Socialista e o perigo a que expunha a civilização Cristã.
“Quem quer que estabeleça a raça ou o povo ou o estado ou alguma forma particular de estado ou o poder depositário ou qualquer outro valor fundamental da comunidade humana para ser a suprema norma de tudo, mesmo de valores religiosos, e os diviniza a um nível idólatra, distorce e perverte a ordem do mundo planejado e criado por Deus”. (Cf. Acta Apostolica Sedis, Vol. XXIX, 1937, pags. 149 e 171).
A oposição radical do Estado Nacional Socialista à Igreja Católica está plena nessa declaração da encíclica. Quando as coisas atingiram esse ponto, a Igreja não mais poderia, sem renunciar sua missão, recusar tomar uma posição perante o mundo inteiro.
Mas, ao fazer isto, tornou-se novamente “um signo que será alvo da contradição” (Lc 2,34), em presença da qual opiniões contrastantes dividiram-se em dois campos opostos.
Católicos alemães foram, pode-se dizer, unânimes em reconhecer que a encíclica Mit brennender Sorge trouxe luz, direção, consolação e conforto a todos aqueles que seriamente meditavam e conscientemente praticavam a religião de Cristo. Mas a reação daqueles que foram inculpados era inevitável, e, de fato, aquele mesmo ano, 1937, foi para a Igreja Católica na Alemanha um ano de indescritível amargura e terríveis manifestações.
A Oposição Intensificava
Os importantes eventos políticos que marcaram os dois anos seguintes e a guerra, não trouxeram nenhuma atenuação à hostilidade do Nacional Socialismo com relação a Igreja, uma hostilidade que era manifesta até esses últimos meses, quando Nacional Socialistas ainda se lisonjeavam com a idéia de que, tão logo tivessem assegurado vitória nas armas, poderiam abolir a Igreja para sempre.
Testemunhas autorizadas e absolutamente confiáveis manteve-nos informados desses planos — na verdade, eles revelaram a si mesmos na reiterada e sempre mais intensa atividade contra a Igreja na Áustria, Alsácia-Lorena e, sobretudo, naquelas partes da Polônia que já tinham sido incorporados ao velho Reich durante a guerra: lá tudo foi atacado e destruído; isto é, tudo que poderia ser alcançado por violência externa.
Continuando o trabalho de nosso predecessor, nós mesmos, durante a guerra e, especialmente, em nossas mensagens de rádio, constantemente anunciamos as demandas e leis perenes da humanidade e da fé Cristã no que toca os métodos científicos modernos para torturar e eliminar pessoas freqüentemente inocentes.
Isto era para nós o mais oportuno — e podemos mesmo dizer o único — meio eficaz de proclamar perante o mundo os imutáveis princípios da lei moral e de confirmar, no meio de tanto erro e violência, as mentes e corações dos Católicos alemães nos mais altos ideais de verdade e justiça. E nossa solicitude não foi sem seus efeitos. De fato, sabemos que nossas mensagens, e especialmente aquela do Natal de 1942, apesar de toda proibição e obstáculo, foram estudadas nas conferências do clero diocesano na Alemanha, e, então, exposta e explicada à população Católica.
Se os governantes da Alemanha tinham decidido destruir a Igreja Católica mesmo no velho Reich, a Providência decidiu de outra maneira. As tribulações infligidas na Igreja pelo Nacional Socialismo foram levadas ao término pelo repentino e trágico fim da perseguição! Das prisões, campos de concentração e fortalezas emanam, junto com prisioneiros políticos, também a turba daqueles, clérigos ou leigos, cujo único crime foi sua fidelidade a Cristo e à fé de seus pais ou o resoluto cumprimento de seus deveres como sacerdotes.
Por eles todos nós rezamos e nos atemos a cada oportunidade, sempre que a ocasião a oferecia, de enviar a eles uma palavra de conforto e benção de nosso coração paternal.
Os Padres Poloneses foram os que Sofreram Mais
Com efeito, quanto mais se arrancam os véus que até então escondiam a entristecedora paixão da igreja sob o regime Nacional Socialista, mais aparente torna-se a força, freqüentemente inflexível até a morte, de inúmeros Católicos e a gloriosa porção nesta nobre disputa que pertenceu ao clero.
Embora ainda não em posse das estatísticas completas, não podemos nos abster de lembrar aqui, como forma de exemplo, alguns detalhes dos abundantes relatos que chegaram até nós de padres e leigos que foram internados nos campos de concentração de Dacau e foram tidos dignos de sofrer reprovação pelo nome de Jesus [At 5, 41].
Em destaque, pelo número e dureza do tratamento dado a eles, estão os padres poloneses. De 1940 a 1945, 2.800 eclesiásticos e religiosos poloneses foram aprisionados neste campo; entre eles estava um bispo auxiliar polonês que lá morreu de Tifo. No último Abril, só restavam 816, todos outros estavam mortos à exceção de dois ou três, transferidos a outro campo.
No verão de 1942, 480 ministros de religião de língua alemã eram sabidos estarem reunidos lá; desses, quarenta e cinco eram Protestantes, todos os outros padres Católicos. Apesar do influxo contínuo de novos internados, especialmente de algumas dioceses da Bavária, Reno e Westfalia, seu número, como resultado do alto índice de mortalidade, no início desse ano não ultrapassava 350.
Nem deveríamos nós passar em silêncio aqueles pertencentes aos territórios ocupados, Holanda, Bélgica, França – entre eles o Bispo de Clermont – Luxemburgo, Eslovênia, Itália.
Muitos desses padres e leigos suportaram sofrimentos indescritíveis por sua fé e por sua vocação.
Em um caso, o ódio dos ímpios contra Cristo chegou ao ponto da paródia, na pessoa de um padre internado, com barbante farpado, do escarnecimento e coroamento com espinhos de nosso Redentor.
As generosas vítimas que, durante os doze anos desde 1933, por Cristo e sua Igreja sacrificaram na Alemanha suas posses, liberdade e vidas, estão erguendo suas mãos a Deus em sacrifício expiatório. Que o justo Juiz o aceite em reparação dos muitos crimes cometidos contra a humanidade não menos que contra as gerações presente e futura, e especialmente contra a juventude desafortunada da Alemanha, e que Ele, finalmente, segure o braço do anjo exterminador.
Com sempre crescente persistência, o Nacional Socialismo procurou denunciar a Igreja como inimiga do povo alemão. A injustiça manifesta da acusação teria ofendido profundamente o sentimento dos Católicos Alemães e o nosso, se tivesse vindo de outros lábios. Mas nos lábios de tais acusadores, longe de ser agravo, a acusação é o mais claro e honorável testemunho da forte e incessante oposição sustentada pela Igreja a tais doutrinas e métodos desastrosos no interesse da verdadeira civilização e do povo Alemão; para este povo, oferecemos o desejo que, libertos agora do erro que o precipitou no caos, possa encontrar novamente sua própria salvação nas fontes puras da paz e felicidade verdadeiras, nas fontes da verdade, humildade e caridade, fluindo com a Igreja desde o coração de Cristo.
II. Olhando para o Futuro:
Uma lição certamente dura aprendida, esta dos últimos anos! Deus concedeu ao menos que isto possa ser compreendido para o lucro das outras nações!
“Recebei instrução, vós que julgai o mundo!” [Sl 2, 10].
Este é o mais ardente desejo de todos que sinceramente amam a humanidade. Pois a humanidade, agora a vítima de um processo ímpio de exaustão, de cínico desprezo pela vida e direito dos homens, tem apenas uma aspiração: seguir uma vida tranqüila e pacífica, em dignidade e honesto labor. E, para este propósito, espera que um fim seja dado àquela insolência com a qual a família e o coração doméstico foram abusados e profanados durante os anos de guerra.
Pois aquela insolência clama ao céus, e evolveu num dos mais graves perigos não apenas para a religião e moralidade, mas também para a relação harmoniosa entre os homens. Criou sobretudo aquelas turbas de desamparados, desiludidos, desapontados e desesperados, que irão expandir as fileiras da revolução e desordem, em pagamento da tirania não menos despótica que estas cuja derrota planejaram os homens.
As nações, e notavelmente as médias e pequenas nações, clamam o direito de ter seus destinos em suas próprias mãos. Eles podem ser levados a assumir, com seu total e desejoso consentimento, o interesse do progresso comum, obrigação que modificarão seus direitos de soberania.
Um final para o Jogo de Guerra
Mas após terem sustentado sua porção — sua larga porção — de sofrimento para derrubar um sistema de violência brutal, eles são designados a recusar a aceitar um novo sistema político ou cultural que é decisivamente rejeitado pela grande maioria de seu povo. Eles mantém, e com razão, que a tarefa primeira de construtores da paz é de pôr um fim ao criminoso jogo de guerra e assegurar direitos vitais e obrigações mútuas, como entre o grande e o pequeno, o poderoso e o fraco.
No fundo de seus corações, os povos sentem que seu governo poderia ser desacreditado se eles não sucederem em suplantar a louca irresponsabilidade do governo da violência pela vitória do certo.
O pensamento de uma nova organização da paz é inspirado — ninguém poderia duvidar — pela mais sincera e leal boa vontade. A humanidade inteira segue o progresso dessa nobre empresa com ansioso interesse. Que amarga desilusão seria se isto fosse falhar, se tantos anos de sofrimento e sacrifício próprio fossem em vão, ao permitir novamente prevalecer aquele espírito de opressão do qual o mundo esperava ver-se liberto de uma vez por todas!
Pobre mundo, ao qual pode então aplicar-se as palavras do Cristo: “E o último estado daquele homem torna-se pior que o primeiro”[Lc 11, 24-26].
A presente situação política e social sugere estas palavras de aviso a nós. Nós tivemos, hélas, de deplorar em mais de uma região o assassinato de padres, deportação de civis, o assassinato de cidadãos sem julgamento ou em vendeta pessoal. Não menos triste são as notícias que chegaram a nós da Eslovênia e da Croácia.
Mas nós não nos deixaremos abater. Os discursos feitos por homens competentes e responsáveis no curso das últimas semanas tornaram claro que eles estão almejando o triunfo das coisas certas, não meramente como objetivo político mas mesmo como dever moral.
Por conseguinte, nós confiantemente publicamos um ardente apelo por preces a nossos filhos e filhas de todo o mundo. Que ele atinja todos aqueles que reconheçam em Deus o amoroso Pai de todos homens criados em sua imagem e semelhança, a todos que sabem que no seio de Cristo bate um divino coração rico em misericórdia, profunda e inexaurível fonte de todo bem e todo amor, de toda paz e toda reconciliação.
Do cessar de hostilidades à verdadeira e genuína paz, como nós alertamos não muito tempo atrás, o caminho será longo e árduo, demasiado longo para a reprimida aspiração da humanidade faminta por ordem e calma. Mas é inevitável que tenha de ser assim.
Talvez seja até melhor assim. É essencial que a tempestade das paixões superexcitadas seja primeiro deixada acalmar: Motos praestat componere fluctus [Virgílio, Enéidas 1, 135].
É essencial que o ódio, a desconfiança, os estímulos de um extremo nacionalismo dêem lugar ao crescimento de sábios conselhos, ao florescimento de planos pacíficos, a serenidade no intercâmbio de opiniões e a fraterna compreensão mútua.
Que o Espírito Santo, luz dos intelectos, gentil governante dos corações, digne-se a ouvir as orações de Sua Igreja e guiar em seu árduo trabalho aqueles que, em conformidade com seu mandato, estão buscando sinceramente, apesar dos obstáculos e contradições, alcançar o objetivo tão universalmente, tão ardentemente, desejado: paz, uma paz meritória do nome; uma paz construída e consolidada em sinceridade e lealdade, em justiça e realidade; uma paz de força leal e resoluta de superar ou tornar impossível aquelas condições econômicas e sociais que podem, como fizeram no passado, facilmente levar a novos conflitos; uma paz que pode ser aprovada por todos homens de mente reta de todos povos e todas nações; uma paz que as futuras gerações poderão considerar agradecidamente como o resultado feliz de um triste período; uma paz que possa projetar-se nos séculos como avanço resoluto na afirmação da dignidade humana e da liberdade ordenada; uma paz que possa ser como a Magna Carta que encerrou a idade das trevas da violência; uma paz que, sob a misericordiosa direção de Deus possa deixar-nos então atravessar prosperidade temporal sem perdermos a eternal felicidade. [Cf. Collect, Terceiro Domingo após Pentecostes] .
Mas, antes de atingirmos esta paz, segue verdade que milhões de homens, em seu próprio lar ou em batalha, em prisão ou em exílio, tem de ainda beber seu amargo cálice. Quão ansiamos ver o final de seus sofrimentos e angústias, a realização de suas esperanças! Por eles, e por toda humanidade que sofre com eles e neles possa nossa humilde e ardente oração acender ao Todo Poderoso Deus.
Enquanto isso, veneráveis irmãos, nós estamos imensamente confortados pelo pensamento de que dividis nossas ansiedade, nossas orações, nossas esperanças; e que por todo o mundo Bispos, Padres e fiéis estão unindo suas súplicas às nossas no grande coro da Igreja universal.
Em testemunho de nossa profunda gratidão e como garantia de infinitas graças e favores Divinos, com sincera afeição, nós damos a vós, a eles, a todos que se unem a nós desejando e trabalhando pela paz, nossa benção apostólica.
S.S. Papa Pio XII
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